Interculturalidade, Escolas Indígenas e Resistência: a educação escolar indígena no Rio Grande do Norte

Autores

Palavras-chave:

Bilinguismo/multilinguismo, Conhecimentos indígenas, Educação Intercultural, Terra, Territoriality

Resumo

Este artigo aborda a implementação da educação escolar indígena no Rio Grande do Norte e problematiza as conexões entre escolas indígenas, territorialidade e produção do conhecimento. Baseando-se nos conceitos de interculturalidade enquanto “prática de vida” (Luciano, 2006), “educação territorializada” (Xakriabá, 2008) e terra como “primeira professora” (Styre, 2011), a pesquisa de campo, realizada em 2022 e 2023, abrangeu entrevistas semiestruturadas com gestores escolares e lideranças indígenas de sete comunidades e consultas a dados educacionais oficiais. A pesquisa revelou avanços na implementação de currículos diferenciados em algumas escolas, com ênfase em disciplinas como Tupi, Ketsekrá e Etnohistória, e nas discussões temáticas sobre grafismos e ciência indígena. Ainda há desafios na construção de uma educação intercultural que reflita os processos de transmissão de conhecimentos e apropriação da escolarização nas comunidades indígenas e nas lutas pela demarcação territorial.

Biografia do Autor

José Glebson Vieira, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Paraíba (1999), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná (2001), doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (2010) e pós-doutorado em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (2023). É Professor Adjunto do Departamento de Antropologia (DAN) e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), orientando dissertações e teses nas linhas de pesquisa: Política, direitos e etnicidade; Memória, saberes locais, religiosidade, rituais. Desenvolve pesquisas junto aos Potiguara da Paraíba sobre política indígena, sobreposição de terra indígena com área de preservação ambiental e pesca, bem como sobre a emergência étnica e territorialidade no Rio Grande do Norte a partir das comunidades indígenas dos Caboclos (Açu/RN) e dos Potiguara do Sagi Trabanda e Sagi Jacu (Baía Formosa/RN). Tem experiência na área de antropologia, com ênfase em etnologia indígena, antropologia política e antropologia das populações afro-brasileiras, atuando nos seguintes temas: Mobilizações, dinâmicas étnicas e etnogêneses; Xamanismo, cosmologia, corporalidade e noção de pessoa; Chefias e lideranças indígenas; Territorialidade, paisagem e ambiente; Demarcação de terra indígena; Conflitos socioambientais; Memória e oralidade entre grupos indígenas e quilombolas; Educação e diversidade étnico-racial; Educação Escolar Indígena. Atualmente, é pesquisador colaborador no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília.

Maria Clara Fernandes dos Santos, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Cientista social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Durante a graduação, participou de projetos de monitoria, pesquisa e extensão nas mais diversas áreas das ciências sociais, sobretudo, da antropologia.  

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Publicado

29-11-2025

Edição

Seção

Artigos (fluxo contínuo)