Mães podem pesquisar? Um estudo com narrativas digitais sobre maternidade e vida acadêmica

Autores

Palavras-chave:

Mães pesquisadoras, Feminismos, Narrativas Digitais

Resumo

O presente estudo se propõe a compreender os desafios enfrentados por mulheres mães na academia, amparados nas teorias feministas (Hollanda, 2018; Rago, 2013; Scavone, 2001) e nas bases teórico-epistemológicas da pesquisa narrativa (Souza, Martins, 2020; Josso, 2004), a partir de uma cartografia on-line (Carvalho; Pocahy, 2020). O artigo apresenta inicialmente os dados estatísticos sobre a parentalidade na ciência brasileira e, em seguida, se debruça sobre a cartografia on-line, que recupera histórias e narrativas de mulheres mães pesquisadoras. Dentre os achados da cartografia estão o dilema entre tornar-se mãe ou ser pesquisadora, além da sobrecarga daquela que decide ser mãe durante a empreitada científica. As hiperescritas de si (Maddalena, 2018) das mulheres mães pesquisadoras na rede social Instagram articulam-se como uma possibilidade de enunciação e visibilidade, revelando um cotidiano impregnado pela desigualdade de gênero nos espaços acadêmicos. Por fim, defende-se a necessidade de recuperar tais histórias para feminizar a ciência (Rago, 2001).

Biografia do Autor

Michelle Viana Trancoso, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Michelle Viana Trancoso é Doutoranda em Educação (ProPEd/UERJ), Mestre em Educação (ProPEd/UERJ) e Graduada em Letras (UERJ). Membro do EduStoryLab - Laboratório de Pesquisa em Histórias, Tecnologias e Educação na Cibercultura do ProPEd/UERJ. Atualmente, integra a Gerência Acadêmica da Escola Superior de Redes, da Rede de Ensino e Pesquisa (RNP) e é bolsista na Escola Corporativa da Fiocruz.

Tania Lucía Maddalena, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Pesquisadora argentina. Professora Adjunta no Departamento de Estudos Aplicados ao Ensino (DEAE) da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Também atua como docente no Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPEd) da UERJ. Líder do EduStoryLab - Laboratório de Pesquisa em Histórias, Tecnologias e Educação na Cibercultura. Editora chefe da Revista Docência e Cibercultura/UERJ (2017- atual). Doutora em Educação pelo ProPEd/UERJ - Linha Cotidianos, Redes Educativas e Processos Culturais. Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Especialista em Educação e Novas Tecnologias pela Faculdade Latino- americana de Ciências Sociais (FLACSO/Argentina) e Bacharel em Ciências da Educação pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP/Argentina). Nos últimos anos vem desenvolvendo pesquisas relacionadas aos usos das Narrativas Digitais, Digital Storytelling, Narrativas Transmídia, Literatura expandida, Ficção e Hipermídia em diversos contextos e práticas de ensino-aprendizagem, com foco na formação de professores.

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Publicado

20-12-2023

Como Citar

Viana Trancoso, M. ., & Maddalena, T. L. (2023). Mães podem pesquisar? Um estudo com narrativas digitais sobre maternidade e vida acadêmica. Revista Educação E Cultura Contemporânea, 21, 11385. Recuperado de https://mestradoedoutoradoestacio.periodicoscientificos.com.br/index.php/reeduc/article/view/11385

Edição

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Artigos