Meninas de rua e gravidez: um ideal de valorização social

Resumo

Este trabalho pretendeu buscar a representação social da gravidez de meninas de rua. Supõe-se que longe de ser um problema de desconhecimento dos métodos contraceptivos, a gravidez é desejada pelas meninas de rua. Utilizando o referencial teórico da teoria das representações sociais, de Serge Moscovici, e da Nova Retórica, de Chaí¯m Perelman, foram analisadas as representações sociais sobre a gravidez de meninas de rua através da análise das suas estratégias discursivas. Pressupõe-se que através dessas estratégias é possí­vel conhecer as formas de organização cognitiva desse grupo e que as representações sociais da gravidez têm conseqí¼ências fundamentais nas práticas cotidianas dessas adolescentes. Foi realizada uma pesquisa de campo utilizando entrevistas semi-estruturadas, discussões feitas em grupo e uma oficina sobre sexualidade. Participaram meninos e meninas de rua, educadores e a autora. Foram coletadas as falas de três grupos de meninas: não-grávidas, grávidas e mães. Esta divisão objetivou comparar os mecanismos de enfrentamento associados a estas diferentes condições de vida. Os resultados mostram que a gravidez é considerada natural e inevitável e que não se pode controlar pela vontade nem com métodos preventivos. A gravidez não é desejada pelas meninas não-grávidas e não é tampouco planejada pelas meninas grávidas e mães. Ela constitui-se, no entanto, como um projeto de vida futuro idealizado que realizaria os desejos de segurança, de valorização social e de independência. A gravidez funciona como elemento de identificação social, promovendo uma ruptura importante que exige mudanças drásticas de comportamento. Algumas ações educativas foram sugeridas a partir dos resultados.