CRIMINOLOGIA ANTROPOFÁGICA: HOMICÍDIOS OCORRIDOS DURANTE A PARALISAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO NO ANO DE 2017

Abstract

Analisamos homicí­dios ocorridos, predominantemente com arma de fogo, em Vitória-ES, durante a paralisação da Polí­cia Militar em 2017. Coletamos dados do Sindicato dos Policiais Civis do ES, Ministério Público Estadual, sí­tio eletrônico da Prefeitura Municipal e matérias jornalí­sticas locais. Comparamos a amostragem dos í­ndices da Capital com os dados do Mapa da Violência de 2016. Destacamos que: 1) 189 pessoas morreram por arma de fogo, representando 86,3% de todos os óbitos no perí­odo, a maioria com caracterí­sticas de execução; 2) em 2014, o ES apresentou uma taxa de 35,1 homicí­dios por arma de fogo, por 100 mil pessoas, que, embora seja menor do que as medidas nos últimos 10 anos, à exceção de 2013 (33,5), é muito maior que a média nacional (22,4); mas, em Vitória, o í­ndice esteve muito acima da média estadual (41,2); no ES, 93,3% das ví­timas eram homens, em sua maioria jovens de 15 a 29 anos, e negros; o í­ndice estadual de ví­timas brancas é pouco maior do que o nacional; assim, em 2014 morreram 326,7% mais negros que brancos por homicí­dio por arma de fogo; 3) no perí­odo de paralisação da PM, essa diferença foi fortemente potencializada, com 135 ví­timas pardas ou negras e 25 ví­timas brancas, sendo que para as demais não houve referência a esse dado; foram mortos 540% mais negros do que brancos. A etnia das ví­timas e da distribuição espacial dos homicí­dios, exacerbados no perí­odo estudado, mais que seletividade racial, caracterizam uma verdadeira antropofagia cultural.